O Sporting nos últimos 15 anos ganhou o estatuto de ser uma das melhores escolas de futebol do mundo. Esta afirmação, penso que por todos reconhecida, foi sendo sustentada pela emersão dos evidentes Luís Figo e Cristiano Ronaldo (vencedores da bola de ouro, respectivamente em 2000 e 2008), e por talentos como Nani, Ricardo Quaresma, João Moutinho, Simão Sabrosa e Miguel Veloso. Um jogador jovem com potencial, para se afirmar com gabarito idêntico no futebol profissional aos futebolistas atrás enunciados, tem que desde cedo ter oportunidades para evoluir e para demonstrar essa promessa de qualidade.
Com a chegada de José Eduardo Bettencourt a presidente do clube leonino e a posterior saída de Paulo Bento do comando técnico da equipa, consubstanciou-se a ideia, há muito a germinar em alguns adeptos do Sporting, de que a falta de títulos se devia ao excesso de jogadores jovens no plantel, à premissa de que o modelo em prática de apostar (em parte) nos elementos da escola do Sporting era falho. Com Sá Pinto (embora com uma curta estadia) e Costinha como directores desportivos, minimizou-se essa aposta, e recorreu-se a jogadores mais experientes.
Durante a fase em que o Sporting apostou nos jovens formados no clube, eu vi o Sporting ir a uma final da liga europa, vi o Sporting a praticar bom futebol e por diversas vezes lutámos pelo título até às últimas jornadas. Com o advento do novo paradigma observei um Sporting sem identidade, à deriva e a fazer as duas piores temporadas de que tenho memória, 2009/2010, 2010/2011. Na época de 2009/2010 a equipa ficou a 30 pontos do 1º classificado o Benfica, e na época subsequente, a 36 pontos do campeão Porto. Estratégia redondamente falhada.
Com Godinho Lopes, Luís Duque, Carlos Freitas e Domingos Paciência, observámos algo inédito no Sporting, um investimento fortíssimo no plantel, com a contratação de jogadores de inegável craveira, o que gerou uma onda de entusiasmo nunca por mim vista em redor do clube. O início foi periclitante, mas a qualidade do treinador e dos jogadores começa a dar frutos e doravante prevê-se um bom rumo.
No entanto, mantenho uma crítica, a aposta nos jovens formados no clube é quase inexistente, e é um desperdício de talento e de dinheiro. Dou dois exemplos de jogadores que nem sequer ficaram no plantel, Nuno Reis e Pedro Mendes, dois defesas centrais, o primeiro efectuou um mundial de sub-20 excelente e no mínimo merecia ser o quarto central do plantel. Pedro Mendes, titularíssimo nos sub-21 foi repescado para a equipa secundária do Real Madrid. Defendendo-me da contradição que pode aparecer aos olhos de quem lê este post (a propósito da afirmação de que os jovens precisam de jogar para evoluir), os talentos também precisam de uma oportunidade de figurar no plantel principal, para eventualmente agarrarem o lugar. Daniel Carriço (actualmente um mal amado) na sua primeira época no Sporting, era em teoria o quarto central do plantel. Com a conjugação de contingências inerentes ao próprio futebol, Carriço teve uma oportunidade, agarrou o lugar e foi titularíssimo, realizando duas grandes épocas, entrando na órbita dos grandes clubes europeus. Actualmente atravessa uma má fase, mas acredito na qualidade do jogador e que pode dar a volta por cima.
Actualmente o único jogador das escolas, estreante no plantel do Sporting chama-se André Martins. Trata-se de um médio-centro ofensivo de 21 anos, franzino, tecnicista, de que eu próprio desconfiei se teria qualidades para vingar ao mais alto nível no futebol profissional, devido à sua muito frágil constituição física. O jovem jogador tem efectuado excelentes exibições ao serviço dos sub-21, demonstrando bastante qualidade, bons pés, visão de jogo, rapidez e velocidade na execução. No Sporting oportunidades nem vê-las, nem um minuto. Veremos se no jogo para a taça contra o Famalicão surgem os primeiros minutos em jogos oficiais esta época.
Concluo, referindo mais dois "mancebos" titulares da selecção portuguesa de sub-21, Cedric Soares (vice-campeão de sub-20) a actuar na Académica emprestado pelo Sporting e Wilson Eduardo, emprestado ao Beira-Mar. E Adrien Silva também emprestado à Briosa. Jogadores que têm demonstrado qualidade. Wilson Eduardo tem sido uma máquina de facturação (de golos falando), seja pelo Olhanense ou pela selecção, depois das vendas de Djaló e de Postiga poderia perfeitamente ter regressado ao Sporting, esperemos que os atacantes do Sporting se mantenham sadios. Cedric o mais jovem destes três, tem crescido, é um lateral apurado tecnicamente, com boa qualidade de passe (não fosse ele médio de origem), e concordo com o empréstimo, pois é ainda bastante jovem. Adrien Silva é um caso mais intrincado, começou a ficar conhecido com 16 anos por ser cobiçado pelo Chelsea como uma grande promessa, recusando a transferência, ao invés de Fábio Ferreira e Ricardo Fernandes que rumaram a Londres para nunca mais se ouvir falar deles, um passo em falso. O luso-francês teve algumas oportunidades nas suas passagens pelo plantel do Sporting, mas verdade seja dita, oportunidades que não foram sequenciadas. Chegou-se à conclusão na época passada que o jogador precisava de rodar e numa decisão mirabolante (a meu ver), foi emprestado ao Maccabi Haifa, em janeiro já estava de volta a Portugal, ao serviço da Académica, prolongando-se o empréstimo à epoca corrente. Durante este empréstimo Adrien tem ganho consistência, tem sido posto a jogar num lugar onde rende mais, a médio-centro com liberdade (leva já 3 golos esta época), e não a trinco como foi posto a jogar no Sporting nas oportunidades que teve. Adrien é um médio completo, esforçado, com técnica q.b., mas que não prima pelo posicionamento. Aguardo com curiosidade a evolução da sua carreira, e por uma nova oportunidade na equipa do Sporting na próxima época.